(Por Dane Avanzi) Muito mais que um simples meio de comunicação, a radiodifusão foi e é um dos principais veículos de comunicação difusor de cultura e conhecimento de norte a sul do Brasil. A radiodifusão, para muitos brasileiros, é a única ou principal fonte de informação, principalmente para aqueles que moram em regiões distantes dos grandes centros. Há algum tempo ouvi o ex-ministro e cantor Gilberto Gil, oriundo de um desses rincões brasileiros dizer: "Através do rádio, ouvia vozes, sons e como era o mundo além de Ituaçu”, pequena localidade no interior da Bahia, cidade onde passou parte de sua infância.

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Devido ao modo de emissão da AM (Amplitude Média), é possível ouvir a programação de rádios à distância, centenas de quilômetros dependendo da propagação, pois as ondas refletem na ionosfera e voltam à terra. Tal fato não mais ocorrerá com o modo de emissão FM (Frequência Modulada). Nesse modo de emissão o sinal é distribuído acompanhando o relevo em uma determinada localidade, em média 50 quilômetros, salvo quando o sinal é distribuído por satélite.

O processo de migração das rádios AM para a faixa FM deu, recentemente, um novo e importante passo através da divulgação da consulta pública de Santa Catarina, publicada agora em março. Essa consulta possibilita conhecer o processo de canalização em território catarinense, assim como aconteceu no Paraná nos últimos meses. Agora a migração passa a atingir cerca de 45,17% das emissoras optantes pela mudança para a faixa FM e mercados passam a poder abrigar as AMs no FM tradicional (88.1 FM a 107.9 FM) ou no estendido (76 a 87 FM).

Os números se referem ao processo em todo o país. Já foram atendidas 626 estações e 760 aguardam o avanço do processo. As próximas etapas deverão caminhar rumo ao Rio Grande do Sul e depois para os três estados mais populosos do país.

A portaria que define as regras para a migração das emissoras AM para a faixa FM e a forma como os processos acontecem foi assinada em março do ano passado pelo Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Segundo o Governo Federal, a migração das rádios de uma faixa para outra é uma antiga reivindicação das rádios comerciais, que dentre outros benefícios terão maior clareza de áudio e poderão explorar seu negócio com maior eficiência. O fato é que muitas emissoras já estão investindo, e as que ainda quiser realizar a migração terão de se preparar financeiramente para investir na reestruturação do negócio. Nesse cenário de Crise, baixo crescimento e alta do dólar, será que essas emissoras terão fôlego para aquisição de novos transmissores e equipamentos? O mais estranho nessa medida é o fato que em todo o mundo existe radiodifusão AM e essa alteração não trará nenhum benefício no uso do espectro radioelétrico ora ocupado.

Paralela a essa discussão, com o fito de otimizar o espectro radioelétrico, EUA e Canadá por exemplo, há décadas vem estudando como implementar a tecnologia SDR – Software Defined Radio, comumente denominada White Spaces. Esta tecnologia revolucionária permite que estações radiodifusoras transmitam suas programações sem ter uma frequência fixa, utilizando para tanto softwares capazes de migrar de frequência automaticamente em caso de degradação de sinal em milésimos de segundo sucessivamente. Aqui no Brasil, também há estudos sobre White Spaces, mas pouca mobilização dos principais players nos circuitos decisórios para implementá-la.

Lindeira a essa discussão, a convergência digital que a cada dia mais ganha força e adeptos, talvez seja a grande tendência para o futuro da radiodifusão (TV e Rádio) bem como do meio pelo qual efetivamente se propagará seus respectivos conteúdos. Com o avanço da banda larga no Brasil e no mundo e a mudança comportamental, principalmente dos jovens, acostumados a carregar seu "mundo" no celular, penso que a discussão da migração de rádios AM para FM, em grande parte é inócua e assíncrona com as novas tendências da tecnologia da informação.

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