Durante o mês de dezembro, de 8 a 22, o SESCTV exibirá o Ciclo José Agrippino de Paula, escritor, cineasta e mentor da Tropicália, com as produções dirigidas por ele: Hitler Terceiro Mundo; Céu sobre Água; Candomblé no Togo; Maria Esther e as danças na África; além de Movimento de abertura da “Sinfonia Panamérica”, este dirigido pela videoartista Lucila Meirelles, que também é curadora da série. O ciclo é permeado por comentários de Hermano Penna, José Roberto Aguilar, Jotabê Medeiros, entre outros amigos e admiradores, e oferece material pouco visto pelo grande público, mas que ajudou, inclusive, a escrever a história do cinema de invenção das décadas de 60 e 70.
Embora demonstrasse viver em outra “frequência” e se encontrasse rendido por uma época de repressão artística, Agrippino foi além e se destacou com suas obras. O longa Hitler Terceiro Mundo (1968) que vai ao ar no dia 8/12, às 22h, foi gravado em plena ditadura e exibido anos depois em espaços alternativos. Reflexo do sarcasmo de José Agrippino e resultado de uma produção de poucos recursos financeiros, o filme foi gravado em meio à multidão da capital paulistana, com atuações de Jô Soares, Fernando Benini e Ruth Escobar. Dura crítica ao regime militar, apresenta os resquícios da ascensão e queda de Hitler e sua influência na ditadura no Brasil.
Céu sobre Água, gravado entre 1972 e 1978, é um dos trabalhos mais conceituais de Agrippino. Reúne cenas de sua esposa Maria Esther Stockler grávida e nua, nadando em uma paisagem na Bahia. O vídeo vai ao ar no SESCTV dia 15/12, às 22h, e traz enquadramentos atemporais nos quais não só a gravidez é registrada pela câmera, mas também a criança após o nascimento no mesmo ambiente. Candomblé no Togo, de 1972, é a segunda etapa do ciclo no dia 15/12. Nele, Agrippino registra um culto na África em um povoado com costumes e origens tribais. A gravação com a câmera super 8 permite que os registros de imagem se tornem mais autênticos, como se a câmera fizesse parte do ritual, sem distinção entre os personagens.
Para finalizar o ciclo, no dia 22/12, às 22h, vai ao ar Movimento de abertura da “Sinfonia Panamérica” e Maria Esther e as danças na África. O primeiro, de 1988, reúne em um monitor três distintas imagens de vários fragmentos e nuances da saga e obra de Agrippino, que levam o telespectador a uma mistura de sentidos, tal qual a psicodelia dos anos 60. No segundo, o corpo é traduzido pelos movimentos da dança numa clara interpretação de rituais mais primitivos, captados pelo olhar do precursor da Tropicália.